5 habilidades importantes para um especialista BIM

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Soft skills para especialista BIM

Seja entre quem busca ser um especialista BIM ou em qualquer área do mercado hoje se fala muito em “soft skills”. O termo se refere a habilidades  que não são “suaves” ou “leves” como a tradução sugere, mas que estão ligadas a relacionamentos interpessoais, foco, posicionamento, adaptação e flexibilidade.

Ou seja, habilidades não diretamente conectadas com o conhecimento técnico principal do profissional. E na construção civil não é diferente. A crescente importância destas habilidades complementares está muito associada à adoção de novas tecnologias e à consolidação do BIM no mercado.

O mercado para um especialista BIM

O momento é de mudanças

A indústria da construção civil, conhecida por figurar junto dos setores de caça e pesca quando o assunto é inovação (ou a falta dela), recentemente tem tido diversas transformações pela influência da tecnologia. Isso se deve tanto pela ação das construtechs – empresas do ramo da tecnologia que desenvolvem soluções para a construção – quanto pela própria consolidação do BIM.

As construtechs, por serem empresas de tecnologia, já trazem consigo uma cultura diferente de relações de trabalho e interpessoais. Em geral são empresas que valorizam “soft skills”, que tem uma cultura de trabalho orientada ao resultado e controles de produção através de dados e métricas. 

Tabela comparando soft skills e hard skills
Diferenças entre soft e hard skills (Fonte: BIM na Prática)

Isso tem influenciado empresas mais tradicionais do setor, que desde a metade dos anos 10 vem enfrentando uma crise econômica após a outra, a investir em maior controle de seus processos através de dados.

BIM como catalisador dessa mudança

O BIM é, de certa forma, a base dessa transformação, principalmente quando o assunto é projeto e construção. Afinal de contas, é o BIM que viabiliza (e viabilizará muito mais) a geração de informação que alimenta uma série de processos da construção.

Na área de projetos o BIM já tem uma adesão bastante sólida. Antes, projetos que em diversos casos eram feitos apenas para fins burocráticos (aprovação em órgãos responsáveis), ou para que a equipe de produção (obra) tivesse uma “base” para executar um sistema, agora são objetos de muita análise, discussão, a fim de gerar um produto detalhado e confiável para execução.

A partir do momento em que o mercado percebe que as ferramentas de projeto permitem um alto nível de detalhamento que mitiga, com muita competência, anos da cultura do “resolve na obra”, os projetos agora têm um requisito de informação e qualidade muito diferente.

O perfil profissional

As 5 habilidades fundamentais para um especialista BIM

Para que todo esse processo de mudança ocorra, são necessários não apenas ferramentas e tecnologia, mas uma mudança no perfil das pessoas que trabalham no setor. Seja de profissionais envolvidos com projeto, execução, orçamentação, coordenação ou planejamento de obra.

Por esse motivo listei abaixo 5 características que considero fundamentais para pessoas que buscam ser uma especialista BIM e trabalhar com projetos BIM, seja direta ou indiretamente.

1. Comunicação

Comunicação é a base para o sucesso de tudo, desde um relacionamento pessoal até um vínculo profissional. Projetos desenvolvidos em BIM envolvem uma demanda de comunicação muito mais intensa do que as metodologias ditas “tradicionais”, ou seja, metodologias não integradas baseadas em desenhos 2D. 

Essa comunicação parte desde questões contratuais, de escopo e produto, quanto ao próprio processo de compatibilização de projeto e troca de informações entre diferentes projetistas, gestor(a) do projeto, construtora, equipe de orçamentação e planejamento. 

Por exigir essa comunicação intensa, um processo de projeto que não otimiza a troca de informação associado a profissionais com dificuldade de se comunicar com clareza e objetividade pode onerar um tempo muito considerável ao desenvolvimento do projeto, além de gerar uma série de retrabalhos que levam a insatisfação e desmotivação .

Além disso, é importante destacar que existem uma série de ferramentas que podem ajudar nesse processo, a exemplo dos softwares de gerenciamento de compatibilização, como o BIMcollab e Construflow

Para facilitar a comunicação, também é fundamental ter um processo bem desenhado em cronograma, levando ao próximo ponto deste post.

2. Conhecimento de processo e fluxo de projeto (cronograma)

É fundamental tanto para o gestor de projeto quanto para os envolvidos no projeto identificar a relação temporal e de dependência entre as atividades. Como:

  • 1° Exemplo: Uma vez que se necessita de um alvará de construção para dar início à obra e se tem uma meta de início de obra, é fundamental entender as exigências e o tempo de análise destes órgãos e planejar um fluxo que permita a liberação do alvará na data planejada.
  • 2° Exemplo: Uma vez que se tem uma data estabelecida para a entrega do projeto de fundações, é fundamental que a estrutura da edificação esteja finalizada algum tempo antes disso. Já que a definição da estrutura é que dá insumo para que a fundação seja projetada.
  • Exemplo: É incoerente estabelecer a entrega da estrutura de um reservatório, por exemplo, sem antecipar os cálculos de demanda de RTI e de consumo de água. É impossível também ter o projeto final de impermeabilização do reservatório sem a definição da estrutura deste reservatório.

3. Conhecimento de software / hardware

Antes de mais nada, é preciso, obrigatoriamente, que o coordenador do projeto entenda os formatos de arquivos BIM. Dessa forma, a organização como estes serão integrados ao logo dos projetos é construída por ele. Definir se os entregáveis serão IFC ou em formatos nativos, por exemplo. 

Além disso, deve entender um pouco sobre metodologias de integração de modelo: coordenadas compartilhadas, ponto base do projeto e afins.

Igualmente, entender qual a demanda de informação do projeto e quando se geram determinadas informações também é importante! Algumas informações dependem de configurações BIM definidas no início do processo. 

Para evitar surpresas e desalinhamentos no final, é fundamental mapear o que se espera dos modelos em termos de informação, os chamados “requisitos de informação”.

Ademais, é importante aos envolvidos ter um conhecimento básico de hardware por exemplo. Alguns modelos BIM tem um tamanho considerável. Entender qual o computador é necessário para rodar estes arquivos é importante. 

Entretanto, os projetistas também devem conhecer metodologias que permitam que modelos não tenham tamanhos maiores do que o necessário. Buscando organizar um processo que permita entregar modelos mais leves e fáceis de se manipular sem perda de informação.

4. Conhecimento básico de diversas disciplinas

É importante frisar que a compatibilização de projetos, vai muito além do que rodar o “clash detection”. Falamos um pouco sobre isso citando alguns exemplos práticos que tivemos no dia a dia como projetista. 

Para compatibilizar um projeto não basta analisar se há sobreposição geométrica entre elementos, já que nem todo problema de projeto se baseia nisso, e já que nem toda sobreposição geométrica é necessariamente um problema. 

  • 1° Exemplo: O cruzamento de um tubo com uma viga, por exemplo, por vezes é intencional, e deve gerar uma previsão de furo em viga para viabilizar a execução. 
  • 2° Exemplo: Alguns elementos, como elétrica e gás, não apenas não podem se sobrepor, mas precisam estar a uma distância mínima um do outro.
  • 3° Exemplo: Um projetista hidráulico, ao propor uma furação em viga, deve ter uma noção básica de estrutura. Assim, irá buscar posicionar furações próximas à linha neutra e em locais com menor esforço cortante (afastado de pilares). Isso não dispensa a necessidade do calculista estabelecer diretrizes, validar e incorporar em seu projeto as furações propostas.
Cruzamento de disciplinas previsto por um especialista BIM
Exemplo de um cruzamento que um especialista BIM deve lidar (Fonte: Acervo pessoal)

5. Conhecimento de obra

Vale ressaltar que todo projeto concebido em BIM deve previamente conter um briefing das metodologias construtivas empregadas na obra, para suas considerações no desenvolvimento do projeto. Logo é muito importante conhecer as metodologias e processos de construção.

É fundamental realizar simulações no ambiente digital das situações que podem ser encontradas no canteiro de obras, para a concepção de projetos exequíveis.

  • 1° Exemplo: Quando se projeta o sistema sanitário do banheiro, deve-se levar em consideração o espaço necessário para montagem dos tubos e conexões em obra.
  • 2° Exemplo: Quando se projeta um sistema de climatização deve-se planejar o espaço necessário para instalação e manutenção das máquinas
  • 3° Exemplo: Quando se faz um projeto de um sistema fixado no teto de um pavimento, precisa-se de um entendimento de como será sua fixação no teto. Posicionando as tubulações a uma distância coerente ou até mesmo incluindo estes suportes e fixadores no modelo/projeto.
Vista de uma tubulação fixada no forro (Fonte: Acervo pessoal)

Conclusão

Por fim, em um mercado com processos tão extensos e complexos como a construção civil o volume e a troca de informações é muito importante. O BIM tem aproximado profissionais, e organizado as informações. Mas, também, tem esculpido o perfil e as demandas dos profissionais que trabalham no setor. 

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