Vários termos do “universo BIM” causam dúvidas e discussões acerca do seu significado prático, dentre esses termos o BIM Mandate surge como um dos maiores pontos de discussão.
A tradução literal de BIM Mandate seria “mandato BIM”, ou seja, algo que não pode ser recusado e na qual permite com que terceiros utilizem do nome/estrutura de algo.
Como o mandato de um político, na qual ele pode usufruir dos poderes conferidos ao seu cargo para utilizá-los respeitando as regras vigentes, por exemplo decidir onde os recursos de impostos serão aplicados.
Mas para explicar este termo para você de uma maneira simplista e direta, um BIM Mandate é um “padrão” que estabelece as políticas para implementação do BIM por uma entidade (empresa, órgão público, país e etc) de forma centralizada e, mais importante, planejada.
Chuck Eastman, no consagrado livro “BIM Handbook”, o define como:
“Requisitos e objetivos para cada estágio de um BIM roadmap”(Chuck Eastman).
Em muitos casos, o BIM Mandate é entendido como um conjunto de documentos a ser emitido somente por governos ou entidades públicas, entretanto existem autores que consideram os planos de implementação de BIM de grandes empresas também como BIM Mandates.

No caso de governos, como um dos principais catalisadores de construções de um país, eles estabelecem uma série de padrões de processos e recebimentos, buscando a padronização e o envolvimento de toda a cadeia de suprimentos envolvida em uma edificação (Exactal – BIM Mandates & BIM Levels Explained).
Dessa forma, por exemplo, o plano governamental de implementação de BIM do Reino Unido e a Estratégia BIM BR (que explicamos neste blog post) são entendidos como BIM Mandates.
E como é criado um BIM Mandate?
Apesar da definição relativamente simples, o processo de desenvolver um BIM Mandate compatível com as peculiaridades e exigências de um mercado gigante como a da construção civil de todo um país pode ser considerada uma tarefa extenuante.
Isso porque ele envolve o levantamento de gargalos e custos atuais nos diferentes processos da construção, estimativas de melhoria com a implantação dos novos processo, estabelecimento de pilotos para demonstração de benefícios, criação de linhas de financiamento e políticas de incentivo. Além da estruturação da implantação em diferentes níveis governamentais e autarquias segundo uma estratégia.
Uma proposta de esqueleto é apresentada por Barry Tuckwood em um artigo, que recomendo a leitura para os mais interessados no tema, para o Institute of Civil Engineers do Reino Unido (leia o artigo aqui – em inglês):
- Criar um conceito: criar uma visão geral do setor e onde os custos crescem, podem ser cortados ou ajustados e gerar um case básico (referência);
- Realizar um piloto e medir resultados: medir os resultados e ganhos com a padronização, por fim é importante um relatório do criador do BIM Mandate;
- Distribua o modelo para os usuários de vanguarda: recomendação é começar por órgãos públicos cobrando o uso do BIM Mandate como obrigatório. É importante deixar bem claro como o BIM deve ser incorporado ao projeto já no processo licitatório;
- Buscar novos usuários e métricas, expandir o uso, avançar na maturidade: os três últimos passos são basicamente o desenvolvimento de uma maneira responsável e sem atropelos, até chegar nos níveis mais avançados de uso do BIM nacionalmente e com retornos financeiros já inquestionáveis.
Quem deve criar os BIM Mandates?
Embora própria necessidade de BIM Mandates a nível de países ainda está aberta a discussões, discute-se no meio de quem seria a responsabilidade pelas suas criações.
Pesquisadores acabam divergindo, principalmente por alguns acreditarem que a inovação deveria partir dos profissionais, fazendo com que a adoção do BIM faça sentido primeiramente para os processos dessas corporações e não seja apenas uma obrigatoriedade imposta pelo governo.
Além disso, existe o receio de que os BIM Mandates acabem ficando ultrapassados com o passar dos anos e com o desenvolvimento tecnológico sem conseguirem ser atualizados a tempo.
Entre outras alternativas para disseminação incentivada de forma governamental do BIM, além dos Mandates, poderia ser através de treinamentos subsidiados e incentivos fiscais, como feito em outros países e cogitado também no Brasil.
Como essa discussão ainda é bastante recente, diferentes modelos de adoção vem ocorrendo em diferentes países: alguns com maior representatividade do poder público (como o Reino Unido), outros através de incentivos (como Hong Kong e Cingapura) e ainda casos mais descentralizados (como nos Estados Unidos).
Conclusão
Dessa forma, existe muito ainda a ser compreendido de cada processo e lições a serem aprendidas e catalogadas para servir como exemplo de futuras implementações a nível nacional.
Entretanto, é crucial entender a importância de planos que incentivem a inovação de grandes mercados como o da construção civil e, dessa forma, os BIM Mandates tem um papel de destacada importância ao orientarem ações públicas de ensino, capacitação e atualização de processos, termos/aparatos legais e parque tecnológico, além do incentivo a inovação dos profissionais, empresas privadas e órgãos públicos do setor.