BIM Mandate Brasil: O que podemos aprender do modelo da Inglaterra e EUA

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bim mandate mundial

Um BIM Mandate padronizado para todo país é realidade em alguns locais, porém considerado desnecessário para outros. E no Brasil, quais seriam as vantagens de um BIM Mandate nacional?

Antes de mais nada, caso você ainda não saiba o que é um BIM Mandate, recomendo dar uma rápida lida neste blog post que escrevemos explicando melhor o que significa o termo, dicas e boas práticas na hora de criar seu próprio BIM Mandate.

Mas voltando ao nosso tema, é válido destacar inicialmente que a adoção da metodologia BIM para modelagem de projetos de engenharia e arquitetura vem crescendo no Brasil.

Com o tema sendo cada vez mais disseminado entre escritórios e construtoras mais novos, e também ganhando relevância nas empresas mais tradicionais do setor, o debate e evolução do BIM Mandate Brasil é notório desde sua presença frequente (e cada vez com discussões mais maduras) em eventos, assim como nos fóruns da área.

Mas não é só a iniciativa privada que vem se movimentando sobre o tema, como bem sabemos o governo federal em 2018 instituiu uma estratégia, colocada em prática em 2020, de fomento à metodologia no país. Conhecida como BIM Brasil, na qual já explicamos melhor em outro post.

Uma das iniciativas do projeto é justamente uma Biblioteca Nacional de BIM, mas sem falar em BIM Mandate Brasil ainda*.

*Nota: pode-se argumentar que existe margem para interpretar que a estratégia acaba apontando na direção de vários BIM Mandates, mas como o tema é complexo, preferi não assumir nada que esteja totalmente explícito no documento.

Pois bem, com a iniciativa privada avançando e um decreto federal prestes a entrar em vigor (2021), qual seria o impacto da regulamentação de um BIM Mandate Brasil neste momento? Será que seria um catalisador desta evolução, ou poderia ser uma burocratização que travaria este crescimento?

Linha do tempo de Mandates
BIM Mandates internacionais (Fonte: Lodplanner)

O caso do Reino Unido: BIM mandate para crescimento?

Muito conhecido por ser uma referência mundial em BIM, o Reino Unido possui uma maturidade em geral muito elevada quanto ao tema. Por lá, a metodologia já vem sendo utilizada e bem disseminada há cerca de uma década.

O uso de BIM para projetos governamentais (licitações) no Reino Unido foi decretado já em 2011 e passou a ser obrigatório a partir de 2016, mas já em um nível mais avançado de maturidade (o que eles chamam de nível 2, sendo antecedido pelos níveis 0 e 1). Desta forma, há quase uma década a metodologia já está sob o holofote de projetistas.

Seu uso é regulamentado pelo Instituto Real Britânico de Arquitetura (RIBA), que além de publicar estudos sobre o tema, também cria e regulamenta o BIM Mandate oficial do país. Desta forma, todos os projetos hábeis a serem submetidos para um processo licitatório, possuem um mesmo padrão, facilitando a análise de órgãos competentes, além da execução e fiscalização de quem executa.

A ideia do governo britânico com esta regulamentação se baseia em dez pilares, sendo os principais, ao meu ver:

  • Criar projetos mais facilmente compreensíveis por todos envolvidos;
  • Aumentar a possibilidade de soluções alternativas plausíveis (aumentando a competitividade);
  • Tornar os projetos mais auditáveis;
  • Tornar o acesso a informação mais aberto (uma vez que todos seguem uma mesma linha).

Caso queira saber mais sobre o histórico britânico, as demandas no nível 2 de uso do BIIM, recomendo acessar as perguntas frequentes sobre o tema (e suas respostas). Lá você pode encontrar informações sobre o projeto, histórico, além de informações mais básicas sobre o tema.

O caso dos EUA: liberdade de criação

Enquanto isso, nos EUA, o cenário é um pouco diferente do país europeu. Por lá, não existe um padrão federal instituído para obras públicas, nem uma regulamentação que obrigue prestadores de serviços públicos a utilizarem o BIM em seus projetos (Fonte: Construction Dive).

O motivo inicial que pode ser apontado é a falta de um órgão nacional com autonomia para criar este tipo de regulamentação por lá. Como pode ser acompanhado em outras áreas, como nas famosas eleições presidenciais, os EUA prezam pela descentralização, fazendo com que órgãos tenham mais atuação regional/estadual do que nacional.

Outro fator importante é uma cultura mais liberal como um todo, que tende a defender desburocratização e desregulamentação como um todo, para que o mercado regule os padrões de acordo com as exigências dos envolvidos.

Mesmo parecendo arriscado, se analisarmos o crescimento do BIM no país, mesmo antes de sua maior popularização mundial nos últimos anos, os EUA já apresentavam uma curva impressionante de adoção.

Entre 2007 e 2012, o uso de BIM na construção cresceu em 54%, sendo hoje já bem difundido de costa a costa. Em pesquisa recente (2019), a adoção em pelo menos um de seus projetos, entre respondentes do setor chegou a 89% (Fonte: Construction Dive).

Por fim, vale ressaltar que os EUA são um país continental, com diferenças geográficas, econômicas e culturais grandes dentro de seu território. Por isso, profissionais do setor de construção comentam que regulamentações nacionais dificilmente conseguem abraçar e respeitar tais diferenças de maturidade.

E para um BIM Mandate Brasil, qual é a melhor escolha?

Como o Brasil está um pouco atrás na curva de adoção do BIM, se comparado a outras potências econômicas, podemos usar isso a nosso favor. Já que outros países já rodaram planos diferentes, isso pode ser usado para aprendermos com quem já aplicou diversas estratégias na prática.

O certo é que precisamos analisar as semelhanças e diferenças entre os diferentes modelos para encontrarmos o melhor caminho. Por exemplo, em termos de dimensões geográficas, somos muito mais parecidos com os EUA do que Inglaterra.

Com as dimensões do nosso território, temos uma variedade enorme de métodos construtivos mais baratos por região e estágios de maturidade de construção distintos. Dessa forma, uma flexibilidade como a estadunidense pode ser positiva.

Por outro lado, o modelo de capacitação e incentivo para licitações, como o ingleŝ, pode ser interessante para estados que se posicionem na vanguarda do investimento em BIM. Santa Catarina, por exemplo, vem buscando se posicionar como referência através de eventos e grupos de estudo, como o Labim SC, sobre o tema.

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Estes modelos mais regionalizados podem funcionar de forma mais efetiva, por se conectarem melhor a realidade do mercado que buscam desenvolver. Estes modelos, inclusive, podem ser o caminho de fomento nacional, com investimentos federais em diversos órgãos locais/estaduais.

Por fim, vale ressaltar que um caminho que está sendo seguido no Brasil é o de educação, com diversos cursos sendo criados e grupos de estudos sendo formados em universidades. Esta é uma medida aparentemente acertada, pois ajudará a garantir um nível básico de conhecimento para todos profissionais da área, deixando-os prontos para se aprofundarem mais de acordo com suas realidades.

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